Unisa vai cumprir determinação judicial e reintegrar os 15 alunos expulsos, diz advogado

A decisão tomada nesta terça-feira (26) determina ainda a abertura de sindicância interna, que vai definir se mantém a expulsão dos alunos ou se penas pedagógicas são aplicadas, de acordo com o advogado. Estudantes de Medicina relatam ao Fantástico como funciona cultura de abusos entre veteranos e calouros A 6ª Vara do Tribunal de Justiça de São Paulo determinou nesta terça-feira (26), em liminar, que os 15 alunos expulsos da faculdade de medicina da Universidade Santo Amaro (Unisa) sejam reintegrados. Eles ficaram nus e tocaram nas partes íntimas durante jogos universitários em abril deste ano. Os estudantes, que são calouros, vão voltar para a sala de aula nesta quarta-feira (27), de acordo com o advogado da faculdade. Dois alunos entraram com ação pedindo a reintegração, mas a decisão vale para todos. As defesas alegaram que os alunos sequer foram ouvidos. Como o g1 e o Fantástico mostraram, calouros são vítimas de trotes há décadas nas universidades. "E essa decisão judicial, inclusive, estabelece a necessidade de se instaurar, na verdade, uma comissão de sindicância, coisa que nós já fizemos com nosso orgulho e para nossa tranquilidade. No bojo dessa comissão é que nós vamos, enfim, eventualmente manter as penas com a supervisão, evidentemente, da Justiça, ou eventualmente reavaliá-las. Os alunos vão ter o direito de apresentar suas defesas e vai ter um processo correndo ali até chegasse em uma conclusão final", disse o advogado da Unisa, Marco Aurélio de Carvalho. Agora, de acordo com o advogado, a sindicância interna vai decidir se mantém a expulsão dos alunos ou se aplica penas pedagógicas. "Com o caráter pedagógico, nós mandamos um recado poderoso para a sociedade e para a nossa comunidade acadêmica, de que nós não aceitamos comportamentos anticivilizatórios, indignos, sobretudo, com uma profissão tão importante como essa, que é a profissão médica. A nossa preocupação é a de garantir uma formação técnica de excelência e, evidentemente, uma formação humanista e isso nós temos feito. Nós temos campanhas, reiteradas campanhas a respeito disso", disse. O advogado disse ainda que a Unisa implementou a campanha "tolerância zero contra o trote" e que busca apoio de outras faculdades de medicina para lançar uma campanha nacional. Unisa fora de jogos A Liga Esportiva das Atléticas de Medicina do Estado de São Paulo (Leamesp) suspendeu por um ano a participação da Universidade Santo Amaro (Unisa) das competições. A medida vale para os campeonatos organizados pela Liga, o pré-Intermed e o Intermed. Segundo apurado pela reportagem do g1, a decisão foi tomada no último sábado (23) e realizada de forma conjunta por representantes das demais atléticas que fazem parte da instituição. Veja mais: Ataque com 'mijosta' e ameaça ao futuro na carreira: as humilhações sofridas por calouros em trotes Cenas de nudez e humilhações frequentes: novos vídeos e relatos expõem abusos contra calouros de medicina A Unisa segue com direito a voto dentro da Liga, mas está temporariamente fora dessas duas competições. A Unisa foi punida não pelo histórico de práticas violentas - algo que também é cometido por algumas universidades que participam dos jogos - mas por ter ameaçado vazar vídeos que comprometessem outras faculdades, e a própria Liga, após a repercussão do caso que ocorreu em outra competição, a Calo 23. Vídeos que mostram alunos da Unisa correndo pelados, com as mãos nas partes íntimas, durante uma partida de vôlei ganharam repercussão nacional. Além da punição, durante a reunião, foi determinado o investimento na reformulação do regulamento da Liga para que casos de violência, assédio e humilhações sejam punidos. O g1 tenta contato com a Atlética da Unisa e com representantes da Leamesp. Silenciamento Ao g1, estudantes de medicina de diferentes universidades relataram que o atual estatuto da Liga é burocrático e impede que as denúncias avancem. "O estatuto prevê punições para alguns tipos de práticas. Por exemplo: agressões, arremessos de objetos sólidos em quadra, briga generalizada, mas essas punições raramente são aplicadas". São muitas etapas que dependem de um desejo coletivo de punição. "Algo só pode ser punido na Leamesp se você tiver por escrito o que aconteceu e duas pessoas de outras universidades concordarem que aquilo realmente aconteceu. Então, mesmo que todo mundo tenha visto, mesmo que tenha acontecido na frente de todo mundo, mesmo que alguém tenha se machucado, que tenha ocorrido assédio, isso só vai ser punido se a faculdade envolvida relatar, escrever, e outras duas não envolvidas escreverem que concordam". Ainda conforme os relatos, a faculdade envolvida escreve o que aconteceu em uma súmula e as outras duas faculdades que precisam atestar, acabam não fazendo por medo de retaliação. "Acaba que nada acontece. Até quando tem brigas generalizadas, que pessoas vão para hospital, que pessoas saem sangrando, que tem violências absurdas, muitas vezes não é punido pela Liga

Unisa vai cumprir determinação judicial e reintegrar os 15 alunos expulsos, diz advogado

A decisão tomada nesta terça-feira (26) determina ainda a abertura de sindicância interna, que vai definir se mantém a expulsão dos alunos ou se penas pedagógicas são aplicadas, de acordo com o advogado. Estudantes de Medicina relatam ao Fantástico como funciona cultura de abusos entre veteranos e calouros A 6ª Vara do Tribunal de Justiça de São Paulo determinou nesta terça-feira (26), em liminar, que os 15 alunos expulsos da faculdade de medicina da Universidade Santo Amaro (Unisa) sejam reintegrados. Eles ficaram nus e tocaram nas partes íntimas durante jogos universitários em abril deste ano. Os estudantes, que são calouros, vão voltar para a sala de aula nesta quarta-feira (27), de acordo com o advogado da faculdade. Dois alunos entraram com ação pedindo a reintegração, mas a decisão vale para todos. As defesas alegaram que os alunos sequer foram ouvidos. Como o g1 e o Fantástico mostraram, calouros são vítimas de trotes há décadas nas universidades. "E essa decisão judicial, inclusive, estabelece a necessidade de se instaurar, na verdade, uma comissão de sindicância, coisa que nós já fizemos com nosso orgulho e para nossa tranquilidade. No bojo dessa comissão é que nós vamos, enfim, eventualmente manter as penas com a supervisão, evidentemente, da Justiça, ou eventualmente reavaliá-las. Os alunos vão ter o direito de apresentar suas defesas e vai ter um processo correndo ali até chegasse em uma conclusão final", disse o advogado da Unisa, Marco Aurélio de Carvalho. Agora, de acordo com o advogado, a sindicância interna vai decidir se mantém a expulsão dos alunos ou se aplica penas pedagógicas. "Com o caráter pedagógico, nós mandamos um recado poderoso para a sociedade e para a nossa comunidade acadêmica, de que nós não aceitamos comportamentos anticivilizatórios, indignos, sobretudo, com uma profissão tão importante como essa, que é a profissão médica. A nossa preocupação é a de garantir uma formação técnica de excelência e, evidentemente, uma formação humanista e isso nós temos feito. Nós temos campanhas, reiteradas campanhas a respeito disso", disse. O advogado disse ainda que a Unisa implementou a campanha "tolerância zero contra o trote" e que busca apoio de outras faculdades de medicina para lançar uma campanha nacional. Unisa fora de jogos A Liga Esportiva das Atléticas de Medicina do Estado de São Paulo (Leamesp) suspendeu por um ano a participação da Universidade Santo Amaro (Unisa) das competições. A medida vale para os campeonatos organizados pela Liga, o pré-Intermed e o Intermed. Segundo apurado pela reportagem do g1, a decisão foi tomada no último sábado (23) e realizada de forma conjunta por representantes das demais atléticas que fazem parte da instituição. Veja mais: Ataque com 'mijosta' e ameaça ao futuro na carreira: as humilhações sofridas por calouros em trotes Cenas de nudez e humilhações frequentes: novos vídeos e relatos expõem abusos contra calouros de medicina A Unisa segue com direito a voto dentro da Liga, mas está temporariamente fora dessas duas competições. A Unisa foi punida não pelo histórico de práticas violentas - algo que também é cometido por algumas universidades que participam dos jogos - mas por ter ameaçado vazar vídeos que comprometessem outras faculdades, e a própria Liga, após a repercussão do caso que ocorreu em outra competição, a Calo 23. Vídeos que mostram alunos da Unisa correndo pelados, com as mãos nas partes íntimas, durante uma partida de vôlei ganharam repercussão nacional. Além da punição, durante a reunião, foi determinado o investimento na reformulação do regulamento da Liga para que casos de violência, assédio e humilhações sejam punidos. O g1 tenta contato com a Atlética da Unisa e com representantes da Leamesp. Silenciamento Ao g1, estudantes de medicina de diferentes universidades relataram que o atual estatuto da Liga é burocrático e impede que as denúncias avancem. "O estatuto prevê punições para alguns tipos de práticas. Por exemplo: agressões, arremessos de objetos sólidos em quadra, briga generalizada, mas essas punições raramente são aplicadas". São muitas etapas que dependem de um desejo coletivo de punição. "Algo só pode ser punido na Leamesp se você tiver por escrito o que aconteceu e duas pessoas de outras universidades concordarem que aquilo realmente aconteceu. Então, mesmo que todo mundo tenha visto, mesmo que tenha acontecido na frente de todo mundo, mesmo que alguém tenha se machucado, que tenha ocorrido assédio, isso só vai ser punido se a faculdade envolvida relatar, escrever, e outras duas não envolvidas escreverem que concordam". Ainda conforme os relatos, a faculdade envolvida escreve o que aconteceu em uma súmula e as outras duas faculdades que precisam atestar, acabam não fazendo por medo de retaliação. "Acaba que nada acontece. Até quando tem brigas generalizadas, que pessoas vão para hospital, que pessoas saem sangrando, que tem violências absurdas, muitas vezes não é punido pela Liga. Ninguém tem a coragem de ir lá, relatar e falar: eu vi que aconteceu, e eu concordo (com a punição) porque isso pode gerar retaliação dentro da própria Liga", explicam alunos. As consequências seriam perdas de favores que importam para as faculdades, como troca de horário de jogos e voto em decisões importantes. "Ninguém denúncia nada para que as práticas sejam livres. Eu não denuncio você, para você não me denunciar. E aí nada é punido", relata uma estudante. ✅Clique aqui para seguir o novo canal do g1 SP no WhatsApp UNISA disse ter enviado ao MP material que pode ajudar nas investigações envolvendo alunos que fizeram gestos obscenos durante partida de vôlei feminino Cartilha de humilhações Alunos da universidade afirmam que os atos obscenos cometidos por estudantes de medicina durante os jogo universitário de calouros fazem parte de condutas exigidas aos novatos por um grupo de alunos do último ano do curso, responsáveis por praticar o chamado trote. Segundo relatos ouvidos pelo g1 e pela TV Globo, existe uma espécie de "cartilha de obrigações" que há mais de dez anos é reproduzida e mantida por alguns desses veteranos. De acordo com os estudantes, logo que entram na faculdade, todos os calouros de medicina são pressionados a participar e se submeter às determinações. Mas quem deseja fazer parte da Atlética precisa passar pelo trote. Os estudantes que não concordam ou desistem das atividades "são hostilizados e chamado de p** no c*", relata um aluno. "Falam que nós não vamos ter acesso a oportunidades dentro da faculdade, que não vamos conseguir arrumar emprego depois de formados, pois não vai ter ninguém para indicar, que não vamos conseguir participar dos esportes, pois todo mundo que pratica é o pessoal do trote, que não vamos conseguir construir um currículo bom no geral, que vamos ficar marcados como fracos dentro da universidade", conta outra estudante de medicina. Fachada de Campus da Universidade de Santo Amaro em Interlagos, Zona Sul da capital paulista. Reprodução/TV Globo No relato dos alunos, além de correr pelado pela quadra, eles devem aceitar humilhações que incluem frequentar a universidade usando cueca ou calcinha por cima da roupa e apelidos vexatórios. "Se você questiona, leva bronca. No grupo, o seu nome de batismo é o apelido. E o nome na faculdade será o que eles vão te dar. E, muitas vezes, são nomes constrangedores, ficando com ele até o fim do curso", explica uma caloura. Ainda de acordo com os depoimentos, o trote é mantido até o final do primeiro semestre. Mas as punições acabam sendo aplicadas durante toda a graduação. Procurada, a Unisa não quis comentar sobre tais acusações. O g1 tenta contato com representante da Atlética. Hino da atlética de medicina da Universidade Santo Amaro "Dura 6 meses. Quem participa do trote tem que ir em todas as festas que a Atlética, fazer tudo que eles pedem, como limpar materiais de treinos, arrumar materiais para ensaio de bateria, por exemplo, e carregar tudo isso para cima e para baixo. Fora os episódios de jogar bebida nos calouros por nada, fazer os meninos correrem pelados nas festas e serem super grossos com eles.” O grupo de veteranos também estabelece como os calouros devem se vestir na faculdade ao longo dos primeiros seis meses. "As mulheres devem ir de cabelo preso, camiseta larga, sem acessórios, calça sem rasgo, sem maquiagem e sapato fechado. Já os homens devem raspar a cabeça e ir com o mesmo estilo de roupa das meninas. Quando começam as aulas, começam as festas, inclusive toda semana. Os calouros devem seguir essa roupa, mas usar uma camiseta específica. As meninas com um top preto por cima da roupa, e os meninos com a cueca em cima da roupa.” Agressão contra calouros Um estudante disse à reportagem que um colega que não se submeteu às determinações acabou sendo agredido. "Amassaram ele na porrada por 'falta de respeito com os veteranos'", explicou um estudante. "Eles xingam quem não participa. Os alunos são humilhados. Conheço gente que saiu dessa jornada no meio, antes dos 6 meses. Eles são chamados com o nome que os veteranos deram por não participarem dos grupos. Tem gente que não aguenta", relata outra aluna. Como todo veterano já foi calouro, o problema reflete a espiral de humilhações e opressões dentro do sistema acadêmico. "Eles falam que passaram por isso, então os calouros tem que passar". Na avaliação dos estudantes, os alunos que foram expulsos acabaram penalizados por algo que ocorre dentro da universidade de forma sistêmica. "Eu acho que os meninos fizeram isso pela pressão da tradição, e acreditaram que ia dar em nada". Ministério das Mulheres diz que atitude de alunos de medicina da Unisa em jogo deve ser 'combatida com rigor da lei' Entretanto, a jovem espera que os responsáveis pela manutenção de tais praticas também sejam punidos. "Eu acredito que vão investigar os mandantes. São quem mandou os meninos realizarem esse ato obsceno durante o trote.” “Eu acho que isso não define a faculdade. Foi um grupo de pessoas, foi uma atitude centrada num grupo pequeno, a universidade é muito maior que isso. A faculdade surgiu de um sonho de homens que queriam somente formar médicos, profissionais da saúde humanizados. Sou totalmente contra o trote e ações como essa. Acredito que essa situação vai fazer com que os alunos da medicina reflitam mais.” Canal de denúncias Os estudantes ouvidos pela reportagem afirmam que a Unisa criou um canal de denúncias, mas o processo é feito de forma interna, sem transparência. A faculdade mantém nos campus cartazes contra o trote e um e-mail é enviado aos alunos reforçando a mensagem todo o início de semestre. Reincidência e omissão Diretórios de diversos cursos da Universidade Santo Amaro (Unisa) usaram as redes socias para manifestar repúdio ao caso. Nas notas, eles cobram ações e relatam que a Universidade já foi omissa na punição em episódios similares anteriormente. "Repudiamos os crimes cometidos e esperamos uma punição exemplar por conta da instituição que por muitas vezes se fez omissa aos crimes praticados por esses mesmos alunos em outras ocasiões", afirmou o diretório acadêmico de direito. Notas dos diretórios acadêmicos de Farmácia, Direito e Odontologia (respectivamente) da Unisa Reprodução "Exigimos que medidas sejam tomadas pela Unisa, e que não acabe apenas em cartazes espalhados pela universidade como aconteceu anteriormente, sobrando até para cursos que nunca estiveram envolvidos e os criminosos seguem intactos", escreveram os diretórios dos cursos de farmácia e odontologia. A Unisa afirmou que expulsou alunos do curso de medicina "identificados até o momento" que foram gravados seminus simulando masturbação durante um jogo de vôlei feminino. Ao todo, sete teriam sido banidos. Histórico O caso ganhou repercussão no domingo (17), após a publicação de um vídeo com a cena nas redes sociais. No entanto, o episódio aconteceu em abril, durante um campeonato universitário. ✅Clique aqui para seguir o novo canal do g1 no WhatsApp. Por meio de nota, a Unisa disse que tomou conhecimento das "gravíssimas ocorrências" durante a manhã desta segunda-feira (18), ao receber as publicações que estavam circulando pelas redes sociais. A instituição era procurada pelo g1 para falar sobre o assunto desde o domingo (17). Alunos de medicina ficam nus e simulam masturbação durante jogo de vôlei feminino "Assim que tomou conhecimento de tais fatos, mesmo tendo esses ocorrido fora de dependências da Unisa e sem responsabilidade da mesma sobre tais competições, a Instituição aplicou sua sanção mais severa prevista em regimento", disse a universidade. A Unisa também informou que levou o caso para as autoridades, que vai colaborar com as investigações e tomar providências cabíveis. E afirmou que caso outros alunos sejam identificados, "seja pela equipe da Unisa, ou polícia, receberão a mesma punição". Ainda de acordo com a Instituição, até o momento, nenhum representante da Unisa foi intimado. Para receber mais notícias do g1 SP, clique aqui Calças abaixadas em jogo feminino Vídeo divulgado nas redes sociais mostra alunos ao fundo com as calças abaixadas simulando uma masturbação Reprodução/Redes sociais Segundo apurado pelo g1, os alunos gravados seminus faziam parte do time de futsal da Unisa e estavam em uma arquibancada. Eles abaixaram as calças enquanto o time de vôlei feminino da instituição jogava contra o time de outra universidade, em São Carlos. Nas imagens que circulam pelas redes sociais, os estudantes aparecem tocando nas próprias partes íntimas. De acordo com a Polícia Civil, a Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de São Carlos está investigando a conduta dos estudantes. No entanto, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP) não detalhou por quais crimes os alunos são investigados. VÍDEOS: mais assistidos do g1