Quem foi a mulher que fundou 1º sindicato de domésticas do país e dedicou a vida contra o racismo

Laudelina de Campos Mello inaugurou na década de 1980 em Campinas a entidade que representa as trabalhadoras domésticas. Conheça a trajetória da mulher referência na luta por direitos de empregadas domésticas Fundadora do primeiro sindicato de empregadas domésticas do Brasil, Laudelina de Campos Mello teve uma trajetória marcada pelo combate ao racismo. Protestou contra anúncios de jornais preconceituosos, criou um baile para valorizar a beleza da mulher negra e deixou um legado de defesa dos direitos trabalhistas das profissionais. No Dia da Consciência Negra, a EPTV, afiliada da Rede Globo, reconstituiu a história de luta da Laudelina em Campinas (SP), última cidade do Brasil, segundo historiadores, a abolir a escravidão. Veja no vídeo acima. "A história de Laudelina tem superação, luta contra o racismo, contra o machismo e também para trazer o negro para o centro da sua realidade como um cidadão", explicou Franscisco Lima Neto, autor do livro "Laudelina". Uma mulher a frente do seu tempo Laudelina nasceu em Poços de Caldas (MG), mas iniciou sua militância em defesa das mulheres em Santos, no litoral paulista, em 1924. Na cidade, ela percebeu que as empregadas domésticas, após cerca de 20 anos de trabalho, eram abandonadas nas ruas Laudelina durante entrevista à EPTV Reprodução/EPTV O incomodo com essa realidade fez Laudelina entrar para movimentos populares por melhores condições de trabalho e fundar a primeira associação de trabalhadoras domésticas do Brasil. A entidade chegou a ser fechada pela ditadura Vargas, mas foi retomada anos depois. Na Segunda Guerra Mundial, Laudelina se alistou para atuar como auxiliar de guerra a fim de combater os ideais nazistas de Adolf Hitler. "Aqui no sindicato em Campinas tem o uniforme que ela usou na guerra, tem as medalhas que ela recebeu, as condecorações. Então, assim, era uma mulher muito a frente do seu tempo que, quase como nenhuma lei a seu favor, conseguiu fazer uma revolução", afirmou Lima Neto. Luta contra o racismo em Campinas Laudelina foi morar em Campinas na década de 1950 e ficou chocada com o racismo presente na cidade. Os clubes da cidade promoviam bailes e as meninas negras não podiam participar, então, a militante criou em 1955 a primeira escola no Brasil dedicadas a crianças negras que queriam aprender a dançar balé e tocar piano. Concursos de beleza também excluíam mulheres negras na cidade, então Laudelina criou o concurso Pérola Negra, que levou o título de primeiro baile de gala do Brasil onde mulheres negras eram protagonistas. "Foi a primeira vez no Brasil que um evento de negros aconteceu dentro de um teatro municipal". "Quando ela tinha uma determinada disputa, uma determinada reivindicação, ela era muito focada naquilo, então ela tentava congregar todo mundo para dentro desse olhar dela poder executar o plano, a tarefa, a demanda que ela tinha em mãos", explicou Cleusa Aparecida da Silva, coordenadora da Casa Laudelina de Campos Mello. Concurso Pérola Negra valorizava a beleza da mulher negra Reprodução/EPTV Negros proibidos no Largo do Rosário e na Barão de Jaguara Cleusa explicou que no Largo do Rosário e na rua Barão de Jaguara, locais tradicionais no centro de Campinas, era proibida a circulação de pessoas negras. Para pauta esse debate, Laudelina marcava piqueniques com as trabalhadoras domésticas no Largo do Rosário. "As mulheres vinham, faziam piquenique e depois desfilavam na Barão de Jaguara só para questionar mesmo o poder dominante, a classe dominante na cidade". Em Campinas, Laudelina também iniciou um protesto inédito contra anúncios de empregos em jornais racistas. Primeiro sindicato do Brasil Na década de 1980, com a redemocratização do Brasil e com a promulgação da Constituição, Laudeline criou em Campinas o primeiro sindicato das empregadas domésticas do Brasil. "E ela passou a ser chamada em vários outros estados, várias outras cidades, para ajudar na montagem desses sindicatos para ajudar essas mulheres", explicou Lima Neto. Laudelina foi convidada por outras cidades do Brasil para ajudar na fundação de sindicatos de domésticas Reprodução/EPTV Referência nacional A trajetória de Laudelina a tornou referência nacional na luta pela igualdade racial e na defesa dos direitos das trabalhadoras domésticas. Reconhecimento transformado muitas vezes em homenagem, como a do Google em 2020. "As empregadas domésticas vêm do gene da escravatura e não são consideradas como trabalhadoras, mas continuam ainda como escravas. Elas precisam ser vistas como uma categoria profissional de trabalhadoras", disse Laudelina em entrevista à EPTV na década de 1980. O legado deixado pela militante segue vivo em Campinas. Um coletivo de mulheres e jovens negras educadoras tocam a Casa Laudelina de Campos Mello, instituição que continua lutando pela equidade de gênero, pelos direitos da população negra e contra o racismo. As mulheres do coletivo são chamadas de 'Laudelinas'. "Para nós, Laudelinas, a reivindicação maior é ampliar a nossa repr

Quem foi a mulher que fundou 1º sindicato de domésticas do país e dedicou a vida contra o racismo

Laudelina de Campos Mello inaugurou na década de 1980 em Campinas a entidade que representa as trabalhadoras domésticas. Conheça a trajetória da mulher referência na luta por direitos de empregadas domésticas Fundadora do primeiro sindicato de empregadas domésticas do Brasil, Laudelina de Campos Mello teve uma trajetória marcada pelo combate ao racismo. Protestou contra anúncios de jornais preconceituosos, criou um baile para valorizar a beleza da mulher negra e deixou um legado de defesa dos direitos trabalhistas das profissionais. No Dia da Consciência Negra, a EPTV, afiliada da Rede Globo, reconstituiu a história de luta da Laudelina em Campinas (SP), última cidade do Brasil, segundo historiadores, a abolir a escravidão. Veja no vídeo acima. "A história de Laudelina tem superação, luta contra o racismo, contra o machismo e também para trazer o negro para o centro da sua realidade como um cidadão", explicou Franscisco Lima Neto, autor do livro "Laudelina". Uma mulher a frente do seu tempo Laudelina nasceu em Poços de Caldas (MG), mas iniciou sua militância em defesa das mulheres em Santos, no litoral paulista, em 1924. Na cidade, ela percebeu que as empregadas domésticas, após cerca de 20 anos de trabalho, eram abandonadas nas ruas Laudelina durante entrevista à EPTV Reprodução/EPTV O incomodo com essa realidade fez Laudelina entrar para movimentos populares por melhores condições de trabalho e fundar a primeira associação de trabalhadoras domésticas do Brasil. A entidade chegou a ser fechada pela ditadura Vargas, mas foi retomada anos depois. Na Segunda Guerra Mundial, Laudelina se alistou para atuar como auxiliar de guerra a fim de combater os ideais nazistas de Adolf Hitler. "Aqui no sindicato em Campinas tem o uniforme que ela usou na guerra, tem as medalhas que ela recebeu, as condecorações. Então, assim, era uma mulher muito a frente do seu tempo que, quase como nenhuma lei a seu favor, conseguiu fazer uma revolução", afirmou Lima Neto. Luta contra o racismo em Campinas Laudelina foi morar em Campinas na década de 1950 e ficou chocada com o racismo presente na cidade. Os clubes da cidade promoviam bailes e as meninas negras não podiam participar, então, a militante criou em 1955 a primeira escola no Brasil dedicadas a crianças negras que queriam aprender a dançar balé e tocar piano. Concursos de beleza também excluíam mulheres negras na cidade, então Laudelina criou o concurso Pérola Negra, que levou o título de primeiro baile de gala do Brasil onde mulheres negras eram protagonistas. "Foi a primeira vez no Brasil que um evento de negros aconteceu dentro de um teatro municipal". "Quando ela tinha uma determinada disputa, uma determinada reivindicação, ela era muito focada naquilo, então ela tentava congregar todo mundo para dentro desse olhar dela poder executar o plano, a tarefa, a demanda que ela tinha em mãos", explicou Cleusa Aparecida da Silva, coordenadora da Casa Laudelina de Campos Mello. Concurso Pérola Negra valorizava a beleza da mulher negra Reprodução/EPTV Negros proibidos no Largo do Rosário e na Barão de Jaguara Cleusa explicou que no Largo do Rosário e na rua Barão de Jaguara, locais tradicionais no centro de Campinas, era proibida a circulação de pessoas negras. Para pauta esse debate, Laudelina marcava piqueniques com as trabalhadoras domésticas no Largo do Rosário. "As mulheres vinham, faziam piquenique e depois desfilavam na Barão de Jaguara só para questionar mesmo o poder dominante, a classe dominante na cidade". Em Campinas, Laudelina também iniciou um protesto inédito contra anúncios de empregos em jornais racistas. Primeiro sindicato do Brasil Na década de 1980, com a redemocratização do Brasil e com a promulgação da Constituição, Laudeline criou em Campinas o primeiro sindicato das empregadas domésticas do Brasil. "E ela passou a ser chamada em vários outros estados, várias outras cidades, para ajudar na montagem desses sindicatos para ajudar essas mulheres", explicou Lima Neto. Laudelina foi convidada por outras cidades do Brasil para ajudar na fundação de sindicatos de domésticas Reprodução/EPTV Referência nacional A trajetória de Laudelina a tornou referência nacional na luta pela igualdade racial e na defesa dos direitos das trabalhadoras domésticas. Reconhecimento transformado muitas vezes em homenagem, como a do Google em 2020. "As empregadas domésticas vêm do gene da escravatura e não são consideradas como trabalhadoras, mas continuam ainda como escravas. Elas precisam ser vistas como uma categoria profissional de trabalhadoras", disse Laudelina em entrevista à EPTV na década de 1980. O legado deixado pela militante segue vivo em Campinas. Um coletivo de mulheres e jovens negras educadoras tocam a Casa Laudelina de Campos Mello, instituição que continua lutando pela equidade de gênero, pelos direitos da população negra e contra o racismo. As mulheres do coletivo são chamadas de 'Laudelinas'. "Para nós, Laudelinas, a reivindicação maior é ampliar a nossa representação em todos os espaços de luta. Queremos ampliar nossa representação no Executivo, no Legislativo, no Judiciário", afirmou a coordenadora da casa. *Sob supervisão de João Gabriel Alvarenga. VÍDEOS: tudo sobre Campinas e região Veja mais notícias da região no g1 Campinas