Gravação evidencia que Ramagem sabia que receberia pedido ilegal, e fez grampo para se proteger
Áudios mostram advogadas de Flávio Bolsonaro solicitando devassa do GSI nos sistemas da Receita e do Serpro. (foto de arquivo) Jair Bolsonaro cumprimenta Alexandre Ramagem, ao chegar à cerimônia de posse na sede da agência de inteligência, em Brasília, em julho de 2019 Carolina Antunes/PR A gravação da reunião entre o ex-presidente Jair Bolsonaro, duas advogadas de Flávio Bolsonaro, o general Heleno, então chefe do Gabinete de Segurança Institucional, pelo então chefe da Abin, Alexandre Ramagem, mostra que este último no mínimo desconfiava que receberia um pedido ilegal, e decidiu fazer prova para se defender. No encontro, as advogadas apresentam uma teoria a Bolsonaro de que toda sua família estaria sendo alvo de uma perseguição “pelo quinto escalão” da Receita Federal, responsável pela elaboração de relatórios que explodiram o caso de rachadinhas na Assembleia do Rio, atingindo Flávio Bolsonaro. Depois de dizer que havia uma conspirata na Receita, uma das defensoras diz abertamente que quer que a Abin faça uma devassa nos sistemas do órgão e também no Serpro, o serviço que condensa todos os acessos a sistemas do governo federal. Ramagem, então, recusa a estratégia. Diz que Heleno seria “crucificado” se ela viesse à tona e que nem o então ministro da Economia, Paulo Guedes, poderia dar apoio político à empreitada. “Fiz um pedido do GSI de averiguação dos sistemas de inteligência da Receita”, diz uma das defensoras. Ramagem reage: “Quando?”. “Estou trazendo hoje”, ela responde. Mais adiante, a defensora avança na estratégia: “O que a gente gostaria: a gente gostaria que essa apuração do Serpro em relação ao Flávio, à esposa do Flávio, da família toda do Flávio deveria ser feita para a gente pedir a nulidade disso tudo”. A advogada reconhece que Bolsonaro pode ser acusado de usar a máquina pública em favor da família, mas aponta um caminho para a resposta política: “Não. Isso pode anular a furna da onça como um todo”, indicando que a iniciativa beneficiaria mais de duas dezenas de políticos alvo da investigação. Após ouvir a estratégia, Ramagem diz textualmente que “a via do GSI não é a correta”. Ele ainda afirma que não haveria como justificar a devassa aos dados e ressalta a exposição política junto ao STF. Ele ainda sugere que as advogadas ingressem com pedidos junto ao Supremo, onde haveria mais chance de vitória. Chama atenção a negativa firme de Ramagem, apontado pela PF como autor do grampo da reunião. Ao ir ao encontro municiado de um gravador, tendo-o mantido ligado durante mais de uma hora, diante dos pedidos explícitos de interferência em investigação em andamento, o delegado da PF mostra que quis produzir prova a favor de si, blindando-se de eventual acusação no caso. Aparentemente, ele sabia do potencial lesivo do encontro e quis se blindar. Ainda que expondo Bolsonaro a um risco imenso. O áudio flagra Bolsonaro admitindo conversar com o então chefe da Receita —“tem que conversar com ele sozinho”— para pedir uma apuração sobre auditores da Receita. No mesmo trecho, o ex-presidente crava: “Nunca se sabe quem está gravando…”. Nisso, Bolsonaro estava certo.
Áudios mostram advogadas de Flávio Bolsonaro solicitando devassa do GSI nos sistemas da Receita e do Serpro. (foto de arquivo) Jair Bolsonaro cumprimenta Alexandre Ramagem, ao chegar à cerimônia de posse na sede da agência de inteligência, em Brasília, em julho de 2019 Carolina Antunes/PR A gravação da reunião entre o ex-presidente Jair Bolsonaro, duas advogadas de Flávio Bolsonaro, o general Heleno, então chefe do Gabinete de Segurança Institucional, pelo então chefe da Abin, Alexandre Ramagem, mostra que este último no mínimo desconfiava que receberia um pedido ilegal, e decidiu fazer prova para se defender. No encontro, as advogadas apresentam uma teoria a Bolsonaro de que toda sua família estaria sendo alvo de uma perseguição “pelo quinto escalão” da Receita Federal, responsável pela elaboração de relatórios que explodiram o caso de rachadinhas na Assembleia do Rio, atingindo Flávio Bolsonaro. Depois de dizer que havia uma conspirata na Receita, uma das defensoras diz abertamente que quer que a Abin faça uma devassa nos sistemas do órgão e também no Serpro, o serviço que condensa todos os acessos a sistemas do governo federal. Ramagem, então, recusa a estratégia. Diz que Heleno seria “crucificado” se ela viesse à tona e que nem o então ministro da Economia, Paulo Guedes, poderia dar apoio político à empreitada. “Fiz um pedido do GSI de averiguação dos sistemas de inteligência da Receita”, diz uma das defensoras. Ramagem reage: “Quando?”. “Estou trazendo hoje”, ela responde. Mais adiante, a defensora avança na estratégia: “O que a gente gostaria: a gente gostaria que essa apuração do Serpro em relação ao Flávio, à esposa do Flávio, da família toda do Flávio deveria ser feita para a gente pedir a nulidade disso tudo”. A advogada reconhece que Bolsonaro pode ser acusado de usar a máquina pública em favor da família, mas aponta um caminho para a resposta política: “Não. Isso pode anular a furna da onça como um todo”, indicando que a iniciativa beneficiaria mais de duas dezenas de políticos alvo da investigação. Após ouvir a estratégia, Ramagem diz textualmente que “a via do GSI não é a correta”. Ele ainda afirma que não haveria como justificar a devassa aos dados e ressalta a exposição política junto ao STF. Ele ainda sugere que as advogadas ingressem com pedidos junto ao Supremo, onde haveria mais chance de vitória. Chama atenção a negativa firme de Ramagem, apontado pela PF como autor do grampo da reunião. Ao ir ao encontro municiado de um gravador, tendo-o mantido ligado durante mais de uma hora, diante dos pedidos explícitos de interferência em investigação em andamento, o delegado da PF mostra que quis produzir prova a favor de si, blindando-se de eventual acusação no caso. Aparentemente, ele sabia do potencial lesivo do encontro e quis se blindar. Ainda que expondo Bolsonaro a um risco imenso. O áudio flagra Bolsonaro admitindo conversar com o então chefe da Receita —“tem que conversar com ele sozinho”— para pedir uma apuração sobre auditores da Receita. No mesmo trecho, o ex-presidente crava: “Nunca se sabe quem está gravando…”. Nisso, Bolsonaro estava certo.